Assim como em todos os procedimentos de medidas, as análises quantitativas em laboratórios clínicos possuem erros inerentes. O profissional deve ter em mente que o erro é uma possibilidade tão intrínseca, chegando a ser uma probabilidade. A lei de Gauss, definida pela distribuição normal de erros e com uma curva em formato de sino, é muito conhecida e deve fazer parte dos conceitos dos profissionais. Ela representa a distribuição de medidas, também de erros, de análises em uma mesma amostra.
Com isso, sempre que forem feitas medições em replicata de uma amostra, ou em material de controle, o valor encontrado nunca será o mesmo e sua posição estará dentro de um previsível distanciamento do ponto central (da média), numa distribuição aleatória. Isso evidenciará sempre algum “erro”.
De acordo com a distribuição normal da lei de Gauss, os resultados estarão 68,2%, entre +- 1, do desvio padrão (DP) em torno da média, 95,4% das vezes na faixa de +- 2DP, em torno da média e 99,5% das vezes entre +- 3DP oscilando em torno da média.
Esse comportamento caracteriza-se como uma distribuição dos erros das medidas em replicata e os tamanhos dos erros são consequência da variabilidade, que é o DP, ou ainda melhor, pelo índice de variabilidade, o Coeficiente de Variação (CV). Medições que resultem em valores maiores que os esperados numa faixa aceitável, aumentam o erro aleatório, assim chamado, simplesmente, como erro aleatório.
Se a distribuição dos pontos deixa de apresentar oscilação em torno da média, tem-se então, um desvio do esperado na distribuição normal e é sistemático, caracterizando, algumas vezes, um erro dessa natureza. Pode haver erro sistemático quando:
– os valores do controle excedem algum limite em uma quantidade específica de observações consecutivas;
– os valores do controle estão no mesmo lado da média em sete dias consecutivos, sem necessariamente ultrapassarem os limites.
– os valores do controle em sete dias consecutivos mostrarão uma tendência crescente ou decrescente, não necessariamente ultrapassando algum limite.
O erro sistemático é o tipo mais frequente, em geral, decorrente de problemas persistentes e mais fáceis de serem descobertos e solucionados. Eles têm uma direção certa (para mais, ou para menos) e se relacionam com as variações da média.
Já o erro aleatório, aponta para a maior variabilidade do sistema, significando o alargamento da curva de distribuição dos resultados do controle, a Curva de Gauss. Essa ocorrência leva ao aumento da imprecisão do método analítico e pode ser expresso em termos de DP ou de CV. A direção e dimensão do erro não podem ser previstos, o que levam a uma distribuição alargada dos pontos, razão pela qual a base da Curva de Gauss aumenta. Os erros aleatórios se relacionam com a imprecisão (DP e CV) e suas causas são de esclarecimento mais difícil.
Para um bom estado de estabilidade, é desejável que os dados oscilem em torno de uma média, sem tendências e sem distanciamento exagerado da linha central, a então chamada distribuição gaussiana.
Assim, o procedimento do Controle Interno da Qualidade (CIQ) em laboratórios clínicos deve ser capaz de detectar os erros de medidas, de forma adequada, no material de controle, com o objetivo de aumentar a previsibilidade da qualidade dos resultados de amostras de pacientes. Para tanto, a análise do gráfico de Levey-Jennings contribui para compreensão da variabilidade dos resultados obtidos dos materiais, apontando os erros aleatórios e sistemáticos na realização do processo.
Quando violadas, as regras apontam para o tipo de erro, o que contribui para a compreensão do problema e a busca da causa raiz.
É necessário entender o significado da regra violada e a extensão de acometimento, se algum problema afeta apenas 1 nível de controle, a mais de 1 nível, a apenas 1 analito e se a mais de 1 analito.
Classificando os erros em sistemáticos e aleatórios, podemos dizer qual tipo se relaciona a uma regra específica.
Erros sistemáticos – são apontados pela maior parte das regras, como 2:2s, 4:1s, 5x, 7x, 7T e 10x.
Por terem direção certa, são erros cujas causas são mais facilmente percebidas. Outros analítos do mesmo sistema podem apresentar o mesmo problema.
Erros aleatórios – apontados por 1:3s e R:4s. A regra 1:3s pode apontar eventualmente um erro sistemático de grande proporção, ou magnitude.
Podem ser causados por diferentes fatores e, por serem aleatórios, torna-se mais difícil o encontro da causa raiz. Sempre avalie o histórico de erros do analito.
Identificado o tipo de erro, se aleatório ou sistemático, vá em busca da causa raiz. Os erros sistemáticos são mais frequentes, causados por problemas persistentes e são mais fáceis de serem solucionados. Os erros aleatórios não têm sentido e direção definidos, sendo portanto mais difíceis para encontro da causa raiz.
Lembre-se de verificar o último movimento em relação ao aparelho (manutenção recente), ao reagente (novo reagente, novo lote), calibração etc. Recorra à informação sobre tipos de erros, em alguma lista, para você relembrar as possibilidades. Faça uma revisão apurada das causas de erro. Gaste um pouco do seu tempo na análise, para economizar em tempo e materiais, evitando repetições infrutíferas e que aumentam seus custos. Avalie principalmente dois aspectos:
– Se o problema afeta outros testes que sejam executados no mesmo aparelho. É o que podemos chamar de “denominador comum” para os diferentes sistemas analíticos.
– Se houve intervenção recente no equipamento, desde a manutenção preventiva, algum dano, até a troca de reagentes.
Existem situações de erros nos laboratórios clínicos que precisam de atenção permanente dos profissionais. Realizar a verificação diária por Controle Interno da Qualidade e saber adotar as melhores práticas para abordar as não conformidades é um importante passo para realizar um bom trabalho, com segurança. Alguns profissionais apenas repetem as corridas dos controles quando são apontadas não conformidades, o que não é correto. O laboratório clínico deve estabelecer estratégias para lidar com estas situações e incorporá-las no dia a dia.
Se o controle da qualidade for bem planejado e o Gestor da Qualidade ampliar seu conhecimento teste por teste, sua visão dos sistemas analíticos será de tal forma consistente que possibilitará clareza e maior acerto na busca de soluções para os problemas que surjam.
Saber como lidar com a perda do controle e quais atitudes devem ser tomadas é essencial para garantir os resultados dos exames.
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